Carlos Tavares faz um alerta estratégico para o sector automóvel

No livro “Un pilote au cœur de la tempête” (Um piloto no coração da tempestade), editado pela Plon (disponível na Amazon), o ex-CEO da Stellantis, Carlos Tavares, levanta a hipótese de o grupo poder, no futuro, dividir-se, caso as pressões internas e externas se tornem insustentáveis.

Este cenário está a merecer destaque em vários meios de comunicação internacionais.

O alerta de Carlos Tavares surge num momento em que o sector automóvel vive uma das maiores transformações da sua história:

• Da combustão para a eletrificação;

• Da posse para o uso do automóvel;

• Da venda de veículos para a oferta de serviços de mobilidade integrada.

Mas, para quem trabalha na gestão de frotas ou na mobilidade corporativa, a reflexão do anterior CEO da Stellantis é mais do que uma curiosidade editorial: é um aviso estratégico.

Com “Un pilote au cœur de la tempête”, Carlos Tavares oferece uma reflexão pessoal sobre os desafios que enfrentou e sobre o futuro incerto das grandes estruturas globais da indústria automóvel.

Escala vs. Agilidade

A fusão que deu origem à Stellantis criou um gigante com múltiplas marcas, geografias e culturas empresariais.

Mas a diversidade, que foi uma força inicial, pode tornar-se um obstáculo à agilidade.

À medida que os mercados se fragmentam e as exigências locais se intensificam, estruturas demasiado centralizadas podem perder capacidade de resposta.

Para as empresas de frotas e mobilidade, isto traduz-se na necessidade de soluções mais flexíveis e regionais.

Eletrificação e transformação operacional

A transição para a mobilidade elétrica implica novas cadeias logísticas, métricas de rentabilidade e modelos de negócio.

O investimento em tecnologia, infraestruturas de carregamento e serviços digitais exige decisões rápidas e coordenação entre fabricantes, operadores e governos.

Grupos demasiado grandes podem ter dificuldade em acompanhar esta velocidade, o que levanta dúvidas sobre a sustentabilidade de estruturas globais tão complexas.

Fragmentação como oportunidade

Uma eventual fragmentação da Stellantis, ou de outros grupos com a mesma dimensão, pode representar uma oportunidade de especialização e eficiência.

Estruturas mais pequenas e focadas podem responder melhor a mercados regionais e a clientes empresariais com necessidades específicas.

Em Portugal, este cenário pode abrir espaço para soluções integradas de mobilidade elétrica, com foco no serviço, na sustentabilidade e na gestão inteligente de frotas.

Percurso de Carlos Tavares na PSA/Stellantis

Nascido em Lisboa em 1958, Carlos Tavares é uma das figuras mais influentes da indústria automóvel europeia.

Iniciou a sua carreira na Renault, onde ocupou diversos cargos de responsabilidade, incluindo o de número dois de Carlos Ghosn, desempenhando um papel decisivo na expansão internacional e na rentabilidade do grupo gaulês.

Em 2014, assumiu a liderança do Grupo PSA (Peugeot-Citroën-Opel), onde conduziu uma das mais impressionantes recuperações financeiras do setor automóvel europeu. Durante o seu mandato, destacam-se:

• Integração da Opel e Vauxhall (2017), com a aquisição da General Motors, transformando marcas deficitárias em unidades rentáveis em apenas dois anos;

• Criação e consolidação da DS Automobiles, posicionando a DS como marca premium e plataforma de inovação elétrica e tecnológica;

• Em 2021, Carlos Tavares foi o principal arquiteto da fusão PSA–FCA, criando a Stellantis, o quarto maior grupo automóvel do mundo, com 14 marcas globais sob a mesma estrutura.

Carlos Tavares: um líder entre duas eras da indústria automóvel. O seu percurso demonstra um equilíbrio entre rigor operacional, visão estratégica e capacidade de recuperação industrial, particularmente relevante para a atual transição do setor.

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