Imagine chegar a um posto de carregamento para o seu carro elétrico e, em vez do habitual cabo pronto para uso, encontrar apenas um cabo cortado, desaparecido, roubado. Esta realidade está a tornar-se comum em Portugal e um pouco por toda a Europa, afetando a vida de utilizadores que dependem diariamente deste serviço.
Nos últimos meses tem-se registado um aumento significativo de furtos de cabos de carregamento em postos elétricos por todo o país. Mas este problema não ocorre só em Portugal, como se explica na parte final do texto.
Estes cabos, essenciais para o carregamento rápido de veículos elétricos, são constituídos por cobre e outras ligas metálicas de valor, fazendo deles alvo de ação criminosa. Os autores recorrem habitualmente a ferramentas portáteis de grande potência, como rebarbadoras ou dispositivos de corte hidráulico sem fios, que lhes permitem retirar os cabos rapidamente.
As estações mais visadas situam-se em locais isolados, como parques de estacionamento de zonas comerciais com pouca iluminação e sem sistemas de vigilância dirigida para os locais onde se encontram.
Junto de uma sucateira pouco escrupulosa, o cobre presente em cada cabo DC pode render aos meliantes entre 17 e 25 euros por unidade, dependendo da sua secção e comprimento. Contudo, o preço de reposição deste equipamento é bastante mais elevado. Os custos com cabos novos, com a sua instalação e certificação, por exemplo, estão avaliados em alguns milhares de euros. Além do impacto económico que representa o tempo de inoperacionalidade do posto, com a consequente perda de receita para os operadores.
O aumento do furto de cabos de carregamento para carros elétricos pode afetar a confiança na rede pública de carregamento e seguramente faz crescer os custos operacionais dos prestadores deste serviço.
As consequências destes furtos sentem-na também diretamente os condutores de veículos elétricos. Quer sejam utilizadores particulares, quer sejam profissionais, como os prestadores de serviços de TVDE, que dependem da rede pública de carregamento para garantir a mobilidade diária.
A redução de postos disponíveis e a consequente maior concentração de utilizadores naqueles que ainda não foram vítimas de furto, pode originar outro foco de tensão.
Para reduzir o risco de furto, as empresas que operam postos de carregamento estão a desenvolver medidas de dissuasão, com a instalação de sistemas de videovigilância e de alarme, com o reforço da iluminação, bem como melhorias na fixação e proteção física dos cabos.
As autoridades policiais estão mais atentas à situação e a investigar os incidentes, enquanto associações do setor apelam a uma moldura penal mais eficaz para dissuadir este tipo de crime.
Carlos Ferraz, presidente da APOCME – Associação Portuguesa dos Operadores e Comercializadores da Mobilidade Elétrica, assegurou também que “já foram identificados suspeitos, quer para os autores dos furtos, quer para os compradores deste tipo de materiais”.
Roubos não acontecem só em Portugal
Furto de cabos elétricos ganha dimensão europeia e já está sob investigação da Europol
Diversos países europeus, como Alemanha, França, Reino Unido, Espanha e Países Baixos, têm registado incidentes semelhantes, igualmente em zonas menos vigiadas ou afastadas dos centros urbanos. A motivação é idêntica: o valor do cobre e de outros metais usados nos cabos, como o alumínio e latão, apesar de renderem apenas alguns euros por quilo nas sucatas, continuam a ser um alvo tentador para pequenos grupos ou redes organizadas.
Em países como o Reino Unido e a Alemanha, operadores de redes de carregamento como a BP Pulse, Shell Recharge ou EnBW já reportaram cortes de cabos DC de alta potência em postos de auto-estrada. Os ataques, feitos durante a noite, são também feitos com recurso a ferramentas elétricas portáteis. França e os Países Baixos assinalam o mesmo tipo de furto, normalmente em parques de supermercados ou zonas industriais, onde a vigilância é reduzida.
A Europol tem vindo a acompanhar casos que envolvem grupos que atuam em vários países, aproveitando as diferenças de fiscalização e o mercado paralelo de metais.
Como em Portugal, as empresas responsáveis pelos postos de carregamento um pouco por toda a Europa estão a reforçar as medidas de segurança, instalando sistemas de alarme, sensores de corte e vídeo-vigilância, bem como cabos com travas e revestimentos mais resistentes.












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