O Porsche 911 é um dos automóveis mais reconhecidos do mundo e um verdadeiro ícone cultural.
A sua história começou em 1963, quando foi apresentado como Porsche 901. O nome não durou muito, já que a Peugeot reclamou a exclusividade sobre números de três algarismos com zero ao centro. A solução foi simples, mas marcante: nasceu assim o 911, um dos nomes mais célebres da indústria automóvel.

Uma silhueta e um ADN sem prazo de validade
O design exterior e interior coube a Ferdinand “Butzi” Porsche, neto do fundador da marca. Foi ele quem definiu a silhueta e as proporções que se tornariam intemporais. Já a conceção técnica esteve a cargo do seu pai, Ferry Porsche, e da equipa de engenharia. Competiu-lhe evoluir a filosofia do Porsche 356.
Assim, estas são as características da 1.ª geração do Porsche 911:
- Motor: 6 cilindros opostos (flat-six),16 V, boxer, arrefecido a ar.
- Alimentação: 2 carburadores Weber triple-choke (um por bancada).
- Cilindrada/Potência/Binário: 1.991 cc. 130 cv às 6.100 rpm. 174 Nm a 4.200 rpm.
- Taxa de compressão: 9,0:1.
- Distribuição: Comando único no cabeçote por bancada (SOHC), accionado por corrente.
- Transmissão: Manual de 5 velocidades.
- Tracção: Traseira
- Peso: 1.030 a 1.080 kg.
- Velocidade máxima: cerca de 210 km/h.
- Aceleração: 0–100 km/h em cerca de 8,5 segundos.
Logo que foi lançado em 1963, o Porsche 911 ficou marcado pela famosa promessa da marca: “um carro para a família que pode correr em pista”.
Por um lado, esta idéia baseava-se no facto de oferecer espaço para quatro ocupantes, uma bagageira dianteira e conforto suficientes para a utilização diária. Por outro, possuía um motor boxer de seis cilindros que graças a uma relação peso/potência invejável para a época, lhe permitia mais de 200 km/h de velocidade máxima.
Tudo isto a par de uma aceleração rápida, um comportamento ágil e fiabilidade suficiente para o tornar competitivo em corridas quase sem alterações.
O 911 representava assim a fusão perfeita entre automóvel de família e máquina de competição. Um ADN que ainda hoje o distingue.
- 1973
- 1988
- 1993
- 1997
- 2004
- 2011
- 2018
Fita do Tempo
Ao longo de mais de seis décadas, este carro demonstrou uma capacidade rara de evoluir sem perder a identidade.
A primeira geração, dez anos depois deu lugar ao 911 G em 1973, mais seguro e potente. Em 1988 surgiu o ‘964’, que introduziu a tração integral e o ABS de série. E o Porsche ‘993’, apresentado em 1993, fechou o ciclo dos motores arrefecidos a ar.
Em 1997 é então revelado o ‘996’, o primeiro com refrigeração a água. E em 2004, uma revolução estilística faz surgir o 997, que recuperou as linhas clássicas do modelo.
A este seguiu-se o 991 em 2011, mais largo e tecnológico. A atual geração 992, conhecida em 2018, aposta na digitalização e em motores turbo mais eficientes, com potências entre 385 cv e 480 cv nas versões Carrera.
A evolução das várias gerações do Porsche 911 mostrou uma capacidade rara de adaptação sem perder identidade

Filme Le Mans, 1971
Ícone Intemporal
Com efeito, mais do que um automóvel, o 911 é um símbolo cultural.
Foi imortalizado no cinema, na música e na cultura pop. E mantém-se vivo em inúmeros colecionadores e celebridades que elegeram o Porsche 911 como carro de eleição.
O 911 é também, claro, uma lenda das pistas. Pouco depois do seu lançamento já entrava em corridas e ralis, praticamente sem grandes modificações face à versão de estrada.
A primeira vitória relevante aconteceu em 1967, no Rali de Monte Carlo, com a conquista do 1.º lugar à geral. Dois anos antes, em 1965, nesta mesma prova, havia triunfado na classe.
- Le Mans, 1969
- Targa Fiorio, 1973
- Paris-Dakar, 1984
Vitórias Históricas em Le Mans e na Targa Florio
O desportivo mais vitorioso da história conquistou triunfos em provas míticas como as 24 Horas de Le Mans, onde venceu várias vezes nas categorias GT.
Mas, provando que um carro derivado de estrada conseguia bater máquinas de competição em condições extremas, desde cedo também se afirmou como símbolo da resistência e de agilidade em provas como a Targa Florio.
Disputada na Sicília, esta é uma das provas mais lendárias e duras do automobilismo.
Mas foi neste palco que o Porsche 911 cimentou a reputação da marca, no início com versões quase de série.
O auge aconteceu nos anos 70 do século XX, com o 911 Carrera RSR 2.8 e 3.0 a revelar-se na Targa Florio. Em 1973, a Porsche conquistaria a última vitória absoluta da marca na prova com o primeiro modelo.
No entanto, haveria ainda de vencer, por duas vezes, o mítico Dakar.
O melhor resultado do Porsche 911 no Dakar foi a vitória geral em 1984, e a evolução direta (Porsche 959, baseado no 911) repetiu a vitória em 1986, conquistando nesse ano também a segunda posição.
O Porsche 911 tornou-se um símbolo cultural e um exemplo de engenharia que atravessou gerações

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Américo Nunes e a “Bomba Verde”
Em Portugal, teve como grande embaixador o piloto Américo Nunes, que brilhou ao volante de várias versões em competições nacionais.
Entre 1967 e 1970 diversas vitórias em provas de ralis e de velocidade permitiram-lhe a conquista do Campeonato Nacional de Ralis e do Campeonato nacional de Velocidade por mais do que uma vez. A primeira logo no ano de estreia, em 1967.
Américo Nunes conduziu diversas versões do 911, incluindo o 911 S, 911 ST e 911 S 2.4.
Contudo, o carro porque mais é recordado é seguramente a “Bomba Verde”, um Porsche 911 ST (Short Tail) adquirido pelo piloto em 1970. O apelido surgiu devido à cor verde vibrante do carro, que se tornou inesquecível tanto para os fãs como para os adversários.
Presença na Banda Desenhada
O Porsche 911 conquistou também o seu lugar na banda desenhada franco-belga, onde se tornou quase uma extensão das personagens que o conduziam. A sua participação foi especialmente marcante em duas séries.
Em Ric Hochet, de Tibet e Duchâteau, o repórter-detective ficou inseparável do seu 911 amarelo, elemento que rapidamente passou a fazer parte da sua identidade visual. Mais do que simples meio de transporte, o carro simbolizava juventude, dinamismo e modernidade, surgindo em perseguições e viagens que reflectiam o ritmo intenso das suas aventuras.
Já em Michel Vaillant, de Jean Graton, o 911 aparece em contextos mais ligados ao desporto automóvel, nomeadamente como rival em competições ou como presença realista nos bastidores das corridas. A sua inclusão reforçava o rigor técnico da série e sublinhava o prestígio da Porsche no mundo das pistas.
Assim, tanto em Ric Hochet como em Michel Vaillant, o Porsche 911 assumiu-se como ícone de velocidade e elegância, transportando para as páginas da BD o mesmo mito que representa na estrada e na competição.

Mito que evolui e se adapta
Mas o seu sucesso não se explica apenas pelas vitórias ou pela performance técnica.
Afinal, o Porsche 911 sobreviveu a crises petrolíferas, novas regulamentações ambientais e mudanças de gosto, mantendo-se em produção contínua desde 1963.
A sua silhueta única, o som do motor boxer e a experiência de condução visceral continuam a criar uma ligação emocional inigualável entre o carro e quem o conduz. Ou que deseja conduzi-lo.
Em suma, o segredo do 911 esteve sempre em evoluir sem romper com as origens. De facto, quando arriscou demasiado, o público rejeitou; quando se manteve fiel ao ADN, foi celebrado. Este equilíbrio raro permitiu-lhe atravessar gerações e consolidar o estatuto de mito.
Clássico valorizado
Mais de 60 anos depois, o Porsche 911 continua a ser a prova de que um automóvel pode transcender a sua função e tornar-se um clássico eterno em movimento, desejado em todo o mundo.
Por isso, os primeiros exemplares são hoje peças de coleção disputadas, chegando a ultrapassar os 300 mil euros em leilões internacionais. Em Portugal, um exemplar bem preservado pode valer entre 200 e 250 mil euros.
Marca também presença em eventos históricos como o Rali de Portugal Histórico e o Caramulo Motorfestival, onde a paixão pelo modelo se mantém viva.
O Porsche 911 continua a ser um dos automóveis mais desejados do mundo
































































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