Trump surpreende ao anunciar Kei Cars nos EUA. Mas Europa também discute algo semelhante

kei cars europeu

Parecia ser mais uma quarta-feira normal na Casa Branca, com mais um capítulo da novela das mudanças regulatórias sobre eficiência energética… quando Donald Trump, para grande espanto daqueles que o rodeavam, decide adicionar um novo elemento ao seu errático guião político e anunciar que quer trazer para os Estados Unidos kei cars japoneses!

Durante o anúncio, Trump revelou que se “apaixonou” pelos pequenos veículos durante a sua recente viagem à Ásia, descrevendo-os como “fofos” e “bonitos”.

Não satisfeito com a descoberta, declarou que é “absurdo” não poderem ser vendidos nos EUA, incumbindo o Secretário dos Transportes, Sean Duffy, de resolver esta injustiça.

Visivelmente apanhado de surpresa, como quem descobre que tem uma missão nova exatamente no meio de uma conferência de imprensa, Duffy acenou com a mesma vontade e postura de uma personagem de série televisiva.

Um detalhe importante que justifica o espanto do Secretário dos Transportes: a regulação americana não permite a comercialização destas viaturas.

Se a lei precisa de ser rescrita, avaliada ou debatida? Provavelmente não. Ao estilo atual da governação americana, ou pelo menos na mente de quem a lidera, bastará revogar todas as leis que proíbem a comercialização destas viaturas.

Trump avisou ainda que os veículos terão de ser fabricados nos Estados Unidos, para poderem ser vendidos no país.

O que são os Kei Car?

Para quem não sabe do que se trata, os kei cars são pequenos automóveis urbanos versáteis, que se apresentam em versões para trabalho, versões para passageiros e até versões “desportivas, limitados pela dimensão e pela cilindrada dos seus motores de combustão, que atualmente é de 660 cc.

São ágeis, eficientes e ideais para conduzir em cidades com bastante trânsito.

É importante esclarecer que estes veículos não têm nada a ver com quadriciclos ligeiros europeus, como o Citroën AMI ou os seus equivalentes da Opel e da Fiat, classificados na Europa como quadriciclos. Estes últimos possuem requisitos de segurança muito reduzidos, velocidade limitada (em Portugal, 45 km/h) e uma estrutura extremamente simples.

Já os kei cars são automóveis, ainda que menos complexos e exigentes do que os restantes. Oferecem alguma proteção e segurança, melhor comportamento dinâmico e um desempenho mais próximo de um carro convencional.

Para se ter uma ideia mais precisa, estes veículos são comparáveis a alguns microcarros japoneses que, nas décadas de 1970 e 1980, foram comercializados em Portugal. É o caso de certas versões compactas da Honda, Suzuki, Daihatsu ou Subaru. Muitos desses modelos, que chegaram à Europa com cilindradas mais elevadas, eram vendidos no Japão com motores de apenas 360 cc, enquadrando-se então na classe normativa “kei”.

Um segmento promissor que também agrada à Europa

Apesar de ter parecido disparatado – e de ter apanhado de surpresa até os membros do seu próprio gabinete – o anúncio de Trump pode vir a ser importante para a Europa.

É que, também no Velho Continente, está em discussão a criação de uma nova categoria de veículos ultracompactos, pensada para dar novo fôlego às marcas europeias e melhorar a sua competitividade face à “ameaça” dos construtores automóveis chineses.

Atualmente, a legislação europeia exige que todos os automóveis cumpram normas de segurança e testes de colisão que estes veículos, tão pequenos e leves, simplesmente não conseguiriam ultrapassar. Ou seja, a Europa não tem hoje uma categoria equivalente que permita a sua existência legal.

A ideia em cima da mesa é criar uma categoria intermédia: mais segura e completa do que os quadriciclos, mas mais pequena, leve e eficiente do que os automóveis convencionais. Se avançar, poderá abrir caminho a uma nova geração de microcarros europeus destinados ao mercado interno.

Condição essencial que os diferencia da proposta americana: terem locomoção exclusivamente elétrica.

A nova categoria de carros compactos que a Comissão Europeia planeia propor aos construtores europeus são carros compactos com até 4,2 metros, com preços entre 16.000 e 20.000 euros.

Segundo Stéphane Séjourné, Comissário Europeu para a Indústria, Empreendedorismo, PME e Mercado Único, a Comissão Europeia espera finalizar o plano “E-car” até ao final de 2025.

Seja por eficiência, facilidade de utilização urbana, promessa de um preço mais acessível ou simples sobrevivência industrial, o Ocidente pode muito bem estar prestes a redescobrir o fascínio por estes automóveis. E nada impede que tenham o aspeto de um SUV – a configuração da moda –, desde que, claro, respeitem os regulamentos que os irão enquadrar.

Nota final: alguns construtores europeus, como a Renault ou o grupo Stellantis, já estão a responder a esta vontade europeia, nomeadamente com versões com um posicionamento de preço inferior a 20 mil euros.

  • O novo Renault Twingo, que a própria marca apresenta como uma “interpretação europeia” dos kei cars, tem 3,79 metros de comprimento e é produzido na Eslovénia;
  • O Citroën ë-C3, também produzido na Eslovénia, ou o Fiat Grande Panda, medem ambos cerca de 4 metros de comprimento.

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